domingo, 17 de maio de 2015

Irene



Você é Irene.
 Mas você não sabe quem Irene é, ou o que fez, só sabe que ela possuía muito
medo do escuro e do que se escondia nas sombras do mundo.
Você percebe que coisas tristes e ruins aconteceram na sua vida, e agora elas voltaram
para pegar de volta o que Irene tomou delas.
Mas o que Irene causou? Como Irene fez isso? Quem é Irene?

VOCÊ é Irene, e precisa superar seus inimigos e enfrentar as consequências de suas escolhas
do passado, mesmo sem saber quem é. Ou talvez você saiba. Você é Irene, afinal.
Só precisa pagar o preço por ser quem é.

     Irene é um jogo de mistério e suspense, com batalhas e um terror leve, feito por Asuma no RPG Maker 2003 para o concurso Medo do Escuro, do Mundo RPG Maker. Sua duração varia de 15 minutos para até uma hora.

     Por ser produzido em três dias com a finalidade de participar do concurso, a versão inicial ficou muito simples e curta. Porém, após esse período, Asuma decidiu reunir um tempo livre para melhorar seu jogo, uma decisão muito sábia, já que o produto final se tornou uma obra notável.

Tela de início de uma versão anterior de Irene.

     Você começa sua aventura sem entender nada; com desenhos que a protagonista fez no passado surgindo, personagens bondosos dizendo que vão te ajudar e personagens cruéis dizendo que vão te matar, as informações vão sendo atiradas no jogador e cabe a ele recolhê-las.

     Com uma história baseada em metáforas e interpretações individuais sobre o enredo confuso (entretanto complexo e profundo, permitindo reflexões sobre a moralidade e hipocrisia dos humanos), Irene te dará pequenas pistas para descobrir o significado de tudo o que acontece com nossa protagonista de mesmo nome, como se a história do jogo fosse um quebra-cabeça com peças espalhadas e o jogador precisasse montá-las para entender e contemplar a imagem que se formará - uma estratégia que também foi usada em Zu e comprovada que é capaz de prender o público.
   

     Porém, para não se garantir e depender apenas de sua história, Irene também conta com uma jogabilidade divertida e inusitada: desde batalhas dos típicos RPGs até mini-games, como o clássico de encontrar um anel dentro de um dos três copos que são embaralhados rapidamente.

     O jogo conta até com perseguições, algumas obrigatórias para progredir e outras opcionais: um inimigo vai até Irene para duelar, mas você tem a opção de fugir dele antes, para salvar seu progresso ou só despistá-lo para se preparar. Entretanto, mesmo assim, as batalhas ainda são necessárias.

     E há muito a discutir sobre elas. Primeiramente, são dezenas de batalhas, uma atrás da outra, de acordo com os adversários predeterminados para cada mapa. A ironia é que esse excesso não se torna um incômodo por parte da história do jogo ser contada justamente nesses momentos, por conversas entre os dois oponentes (provocações, especulações, chantagem... muita baixaria ocorre nesses instantes).

    Apesar disso, as leves piadas e gracejos que Asuma tenta encaixar durante os diálogos podem atrapalhar a atmosfera de suspense criada, já que, além de caracterizar a personalidade ácida de Irene, elas também relaxam parte da tensão e confusão sentidas pelo jogador. Sem levá-las em conta, os diálogos são muito bem organizados e claros.

     As batalhas não são tão simples a ponto de não haver a necessidade de desenvolver estratégias. Por mais que haja a opção de usar um único ataque mágico repetidas vezes para derrotar os inimigos, um por um, as batalhas não se tornam monótonas em instante algum por alguns motivos específicos.

     As músicas nessas horas são bem enérgicas, e admito que isso retire parte do clima misterioso do jogo inteiro, mas você nem vai ligar e logo se acostumará a elas, pois combinam com toda a emoção do momento.
     Sobre os gráficos, há muitos pós e contras. Podemos visualizar nosso(s) inimigo(s) à nossa frente, com certa dificuldade devido aos contrastes de texturas e cores, mas podemos; e é possível admirar o fundo, ainda. Com animações beirando um estilo Touhou, aonde o claro e o escuro se divertem explodindo no rosto do jogador, com muito e pouco brilho ao mesmo tempo, há certa dificuldade em enxergar o oponente (às vezes tudo escurece e não dá para enxergar uma pessoa sequer, o que contribui com a imersão no jogo), mas isso não incomoda em momento algum porque, afinal, são poucos os inimigos do jogo que chegam perto de ser abominações.

A não ser que você tema cantoras pop com roupas e cabelo coloridos, fazendo um estilo mais extravagante.
Se você tiver medo disso, nem sei de quantos applauses precisaria.
     Vou ser bem sincero: você não vai gostar da sonoplastia logo de cara. Com exceção da primeira música, da tela de título, que lembra muito as de Zu, é preciso de tempo para se acostumar com a trilha sonora, mesmo porque muitas das músicas não combinam com o instante em que estão inseridas. Mas não culpo Asuma por isso, pois sei que o RPG Maker 2003 limita bastante as escolhas que tocarão durante o jogo.

     As batidas que acompanham Irene são bem simples e remetem aos filmes e jogos antigos, por isso é relevante o estranhamento inicial para quem está acostumado com games e conteúdo audiovisual da atualidade.

     Tanto o mapeamento eficiente quanto os gráficos satisfatórios agradam o jogador desde o começo. Considerando que Irene foi produzido no RPG Maker 2003, Asuma realizou um ótimo trabalho nesses quesitos. Os visuais dos personagens são comuns, mas bem-trabalhados. O autor do jogo falou sobre seu gosto por corredores, que foram desenvolvidos e encaixados com sabedoria aos mapas. A ambientação (mobília destruída, sangue nas paredes, objetos derrubados no chão) cumpre com o que lhe foi destinado: inserir Irene em sua casa antiga, abandonada e... um pouco diferente.

     Não existem jumpscares por este ser um jogo voltado ao mistério, porém alguns olhos podem pular na tela às vezes, em tentativas de surpreender. São pequenos espantos inesperados, mas nada vai te dar um susto além disso.



     A jogabilidade no geral, fora das batalhas, é igual à que vocês estão acostumados: caminhar pelos mapas, salvar o jogo - em desenhos de Irene que a fazem lembrar de sua infância (porções deles estão espalhados por aí, sendo possível escolher entre 15 slots), mexer em itens, entrar em salas e falar com personagens.

      Por se tratar de um jogo originalmente criado para um concurso chamado "Medo do Escuro", é óbvio que o negro da escuridão pintará todas as salas em diferentes tons. Para isso, o sistema de iluminação mais do que eficaz o combate de um jeito simples e belo, atingindo um perfeito equilíbrio entre o muito claro e o muito escuro.


     Ou seja, Irene não é um jogo inesquecível, mas vai passar uma lição importante sobre as decisões e escolhas que tomamos de uma forma simples e perturbadora. Afinal, o melhor jeito de mudar alguém, é fazendo essa pessoa sentir medo. Caso contrário, todos nós poderíamos ter o mesmo destino de Irene.
É preciso instalar o arquivo de fonte "FUENTE2K3", que vem junto com a pasta do jogo.
Não é necessário nenhum RTP para jogar.

"Nenhuma causa é perdida se tivermos um só tolo para lutar por ela."

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