sábado, 16 de maio de 2015

Como Mad Father Conseguiu Se Tornar Tão Marcante?

 Você provavelmente conhece Mad Father. É um dos jogos de terror mais famosos já feito em plataformas de RPG Maker, e o preferido de muitos. Mas o que Mad Father tem que o fez tão famoso e único?

       


   Aloha, Corpses! Aqui é o L.C. novamente, e irei fazer algo um pouco diferente essa semana. Inspirado pela postagem clássica da Kanako sobre Ib (Por que amamos Ib?), eu decidi escrever sobre outro jogo muito popular que cativa e comove todos que o jogam, a fim de tentar mostrar como ele consegue encantar muitos com uma história simples e complexa ao mesmo tempo. Eu sei que a Kanako também já escreveu sobre Mad Father (Apenas alguns comentários sobre Mad Father.) ano passado, mas, enquanto ela falou sobre um ponto de vista próprio de dentro do jogo, eu irei abordar o outro lado da moeda de um jogo de RPG Maker ou Wolf Editor: a sua popularidade com os jogadores, o lado externo. Por isso eu aviso que as duas postagens não são iguais, apesar do mesmo tema. Espero que gostem do texto e deem suas opiniões.

Alerta: spoilers pesados à frente! Se você não jogou ainda, o grande Allen traduziu para vocês e disponibilizou em português no período do Natal passado (e recomendo jogar antes de ler abaixo):  Tradução: Mad Father (~Português)    


                                  ✺ Garotinha indefesa? 


Um rosto de mil sentimentos.
     Pense em todos os jogos de terror do RPG Maker protagonizados por uma mulher em dez segundos. São poucos? As garotas, vistas como o "sexo frágil", ou "delicadas" e "indefesas" são uma ótima escolha dos desenvolvedores de jogos para provocar uma necessidade de proteção delas por parte dos jogadores. Se for uma criança ou adolescente então, melhor ainda. Você vai querer defendê-las e salvá-las. Longe de ser machismo, essa estratégia é ótima para fazer com que o jogador se preocupe e se apaixone pela personalidade sensível de uma personagem facilmente.
     Essa característica inicial, aliada à infância nem um pouco conturbada de Aya (uma menina abandonada à própria sorte em uma mansão amaldiçoada repleta de experimentos vivos, animais raivosos e bonecas tentando matá-la, sem ninguém ao seu lado além de sua serra elétrica - e um coelho que mais parece um item normal para utilizar do que um animal de estimação - exatamente no aniversário da morte de sua mãe, assassinada por seu pai que a traiu com a ajudante de laboratório) unidos ao mistério que cada personagem carrega consigo, tornam a gameplay um misto de emoções e sentimentos.
A garota predestinada a ficar sozinha.
     Ao jogar Mad Father, todos ficam impactados com esses eventos. Exceto Aya. Apenas tendo em mente o objetivo de salvar seu pai, sem saber dos segredos que ele guarda, sua ingenuidade é o que a guia não apenas para a maldição que sua mãe produziu(afinal, nada melhor para proteger sua filha do que amaldiçoar a casa dela, certo?) mas sim para a maldição do futuro. Aya não tinhas escolhas a não ser sofrer as consequências dos atos de seus familiares, Monika e Alfred Drevis: ou morria para se tornar uma boneca, ou vivia para se tornar uma assassina. Algo que surpreendeu a todos os jogadores também. 

     E Sen (criador de Mad Father) tomou uma atenção especial para a inocência de Aya ficar extremamente evidente. Logo no início da narrativa, Aya diz que seu pai "é um cientista", mesmo sabendo das atrocidades que ele cometia em seu laboratório - "um cientista louco" talvez sejam palavras que condizem melhor com a realidade do que cientísta, mas Alfred não era visto dessa maneira por sua filha. Talvez ela até o considerasse seu herói, a inspiração para seu futuro, por todo o amor que a ela foi dado (nos flashbacks é mostrado alguns bons momentos que os dois passam juntos, mas todo o carinho e afeto que Alfred deu a sua filha nunca foram reais. Seus únicos objetivos ao ter uma criança eram transformá-la em uma boneca inanimada), o que a levou a pegar o "livro vermelho" dele que surge no chão após a mansão ser incendiada, quando Aya e Maria fogem juntas. O que quer que esteja escrito no livro, (dizem que o livro é sobre... "anatomia humana") conseguiu mudar a cabeça da garota, aliado à Maria, para que ela se tornasse uma "cientista" ao crescer, seguindo o modelo de seu pai.
  Maria e Aya, portanto, possuem muito em comum. As pessoas têm tendências a gostar mais de Aya do que de Maria, mas ambas sofreram com sua inocência por acreditar no falso amor de Alfred por elas! E Maria maneja facas com perfeição para salvar alguém que queira, enquanto a garota de laço rosa parece ter uma serra elétrica só de enfeite.
   Entretanto, Aya simplesmente não se entrega aos perigos que a rodeiam. Ela usa toda a sua coragem e astúcia para sobreviver em seu próprio lar. Pense, em vinte segundos, em todos os jogos de terror do RPG Maker protagonizados por uma mulher que utiliza algum tipo de arma, sem ser Yume Nikki ou respectivos fangames. São menos ainda! Aya, fraca e solitária, jamais desiste por causa de seus obstáculos, pois ela precisa encontrar o pai! Munida de uma serra elétricaque ela não usa em momento algum pra auto-defesa, já que serras elétricas foram feitas pra cortar presunto e quebrar caixotes, logicamente, a garota pode ser vista como outra líder do girl power, por enfrentar tudo o que vier à sua frente. Todos esses elementos fazem com que seja impossível não gostar da jovem Aya. (que, com apenas 10 anos, conseguia ser muito mais corajosa que você nessa idade)
        Ou seja, quando Sen conseguiu fazer com que o jogador se apegasse completamente à protagonista de Mad Father, todos os outros personagens que fizessem algo a ela, seja isso bom ou ruim, seriam automaticamente amados ou odiados pelos jogadores.
       Incertezas e finais que não sejam concretos fecham com chave de ouro o sentimento de um jogador pelo que ele está jogando, o que leva a muitas teorias e discussões. E, vejam só, Mad Father tem um final assim! Tudo isso, sem contar os gráficos sombrios e a trilha sonora melancólica, já é capaz de emocionar os jogadores, você ainda precisa de mais motivos para considerar esse jogo marcante? Muito bem então, vamos lá.

                                          ✺ Fa✺ Família unida e amada 

 Já que estamos falando de Mad Father, um dos jogos com personagens mais singulares de todos os tempos, acho justo falarmos sobre as relações entre cada figura com cada jogador. Começando pelo Alfred Drevis, o único sociopata dos horror RPG Maker games que não é amado pelo público (exceto quando grita pela Aya no fim do jogo... Aquela voz...), o sujeito que, mesmo só passando os dias no laboratório testando partes corporais humanas para confeccionar bonecas, consegue dinheiro para financiar uma mansão sabe-se lá como. Há muito a se dizer sobre Alfred, mas o que faz com que as pessoas o considerem alguém tão hediondo? 
          Sen trabalhou muito bem o mistério da morte de Monika Drevis, mantendo essa dúvida na mente dos jogadores por quase a maior parte do jogo: "se a morte foi mesmo por uma doença, por que seu espírito voltou e amaldiçoou as cobaias do pai de Aya?". Assim, quando é revelado o verdadeiro motivo, não estamos preparados para saber que Alfred matou a própria esposa e pretende transformar nossa queridinha Aya em uma boneca, não temos tempo de processar essas ideias e pensar de maneira racional depois de uma revelação tão surpreendente. Como Sen consegue deixar os jogadores assim? Se sabemos que ele é um assassino, por que achamos inesperado que ele vá perseguir a própria filha?
           Durante alguma parte do decorrer do jogo, a maioria dos jogadores ainda não desenvolveu uma opinião concluída sobre Alfred Drevis, já que Aya diz a todo momento que não pode se desviar do foco de salvá-lo e todos os momentos em que os dois estão juntos ele parece um pai "normal" (os jogadores não sabem se Aya estava cega por salvar Alfred por amor fraternal ou para provar que tinha independência e maturidade para poder trabalhar com ele. Vimos em um flashback que ela morria de vontade de poder usar sua própria serra elétrica...). Até certo ponto do jogo Sen havia conseguido fazer com que o jogador se apegasse o suficiente a Aya e que se preocupasse pelo menos um pouco com o pai dela nas mãos da mãe. Por mais que fizesse coisas terríveis com suas cobaias, ele não havia feito nada de ruim à Aya, e era ela que tentávamos proteger a todo custo dos experimentos do pai. Então, somos surpreendidos pela revelação da morte de Monika e, apenas a partir daí, passamos a temer quase instantaneamente o louco da serra elétrica. Pra falar a verdade, antes de tudo ser revelado no final, não sabemos quem temer mais: o pai sanguinário ou a mãe vingativa que Aya tem. Casos de Família.
Eu sei que você shippa.
            Outra grande incógnita de Mad Father é Dio o único cobaia sofredor que não dá Gemas. Qual o motivo de todos o amarem tanto? Sua primeira aparição foi quando Aya acaba de ver dois testes de Alfred, mais parecidos com monstros do que com seres humanos, e ele indica o caminho para escapar. Aya não vai seguir um desconhecido, lógico, então pergunta quem ele é ao invés de fugir (uma decisão muito sensata nessa situação), percebe que ele não tem um olho, fica apavorada e corre para o lado oposto, então conhece Ogre, que explica sobre a maldição. O encontro seguinte dos dois é quando a garota está um pouco mais madura e adaptada a tudo que acontece em sua casa, e a primeira coisa que Dio diz é: "Não se preocupe. Eu sou seu aliado.", tentando, novamente, convencer Aya a fugir com ele. Ela recusa, dizendo que precisa salvar seu pai e ele exige, sem vitória, que a garota desista de seu pai, antes de ser esfaqueado por Maria ao começar a falar que alguém pediu a ele para "fazer isso". No fim, Dio surge do nada e dá a última facada em Alfred, antes que ele ataque Aya e Maria. Isso mesmo, Dio, com apenas um olho, percebe que o pai de Aya vai atacá-la antes mesmo de ela perceber.
          Há muitas teorias que explicam esses acontecimentos a respeito de Dio, porém o mais impensável é que Monika Drevis usou o corpo de um cobaia jovem e bonito para persuadir Aya a ficar o mais longe possível de seu pai. E, se você analisar essas aparições do garoto loiro, até pode considerar plausível. Afinal, entre todas as cobaias de testes de Alfred Drevis, porque Dio foi o único que se aliou à Aya para salvá-la do cientista louco? Talvez o fantasma de Monika tenha feito contato com o menino caolho para que ele tentasse tudo para salvá-la, ou talvez ela tivesse se apossado de seu corpo para fazer isso, não podemos deixar de considerar uma teoria. Dio sempre age de maneira evasiva quando Aya fala sobre sua mãe com ele. Quando se trata da loucura de Monika Drevis, somos incapazes de pensar do que ela é capaz de fazer para proteger a filha ou ficar junto do marido.
     A lição que Sen quis passar com Mad Father é que a maldade e a loucura, por mais camufladas ou imperceptíveis que sejam, estão presente em todos, caminhando lado a lado. Alfred era um louco cruel, Monika se tornou sedenta por vingança, e Maria - levada por seus sentimentos por Alfred - tomou seu lugar após a morte deste, assim como Aya pode ter feito. E, não importando o tamanho das boas ações que cada um fez (Alfred tirar Maria das ruas, Monika amar a filha a ponto de se sacrificar por ela, Maria ser leal a seu doutor até o fim e Aya fazer de tudo pra salvar seu pai, ajudando diversos experimentos desabrigados dele por sua trajetória), eles foram dominados pela maldade.
          Então, para finalizar, podemos dizer que Mad Father é uma enchente de feelings tão marcante não apenas por causa do básico: gráficos, músicas, inovação na história e nos personagens; mas, sim, por algo mais profundo e sutil que consegue tocar os jogadores: a dó e compaixão que sentimos por vítimas da loucura.
          Mad Father pode se assemelhar a uma fila de peças de dominó empinadas onde cada peça é um personagem. Quando o primeiro se entrega à loucura e crueldade, ele cai derrubando os próximos. Um a um vão caindo, até que não reste mais ninguém em pé. E podem até haver outros modos de essa brincadeira terminar, mas todos levarão ao mesmo lugar: um imprevisível Bad End.

Bem sei que o post ficou grande, mas fale a verdade valeu muito apena !! Bem esse foi o post .

Atéé

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